Plano de classificação

Tipo de entidade:Pessoa singularAmaral, Francisco Keil do. 1910-1975, arquitetoOutras formas do nome:Francisco Caetano Keil Coelho do AmaralKeil do AmaralData(s): História:Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral, filho do engenheiro agrónomo Francisco Coelho do Amaral Reis (1873-1938), elevado a visconde de Pedralva, e de Guida Maria Josefina Cinatti Reis Keil (1885-1965), nasceu em Lisboa, a 28 de abril de 1910. Os primeiros anos foram passados em Canas de Senhorim, no solar da família paterna, com exceção dos períodos de 1912-1913 e 1920-1921, em que viveu em Luanda com a família, onde o pai desempenhou os cargos de diretor-geral de Agricultura e governador-geral de Angola. Regressados desta colónia, em 1921, veio viver com a família em Lisboa, onde no ano seguinte iniciou o liceu na Escola Nacional, no palácio da Lavra, na rua de São José. O ensino secundário foi concluído em 1928, no liceu Gil Vicente, que se encontrava no convento de São Vicente de Fora. De seguida, frequentou, em simultâneo, os cursos de Engenharia, no Instituto Superior Técnico, e de pintura, na Sociedade Nacional de Belas-Artes. Aos 18 anos, a conselho de Leal da Câmara, do círculo familiar, enveredou pela Arquitetura, ingressando na Escola de Belas Artes de Lisboa (EBAL). Esta opção coincidiu com o abandono da casa dos pais e o início da atividade profissional, na área da publicidade, que lhe permitiu contactar com artistas modernos. A permanência na EBAL revelou-se uma profunda desilusão, por via da metodologia totalmente ultrapassada praticada pelos professores. Sob a acusação de ser o cabecilha de uma fação insurreta, quando frequentava o 2.º ano, foi-lhe instaurado um processo disciplinar, devido à ação de Adães Bermudes, responsável pela cadeira de Arquitetura, que poderia culminar na sua expulsão, facto que o levou a abandonar este estabelecimento de ensino. Em 1931 começou a trabalhar no atelier do arquiteto Carlos Ramos, na rua dos Remédios à Lapa, onde encontrou Adelino Nunes e Dario Vieira, aí permanecendo durante cinco anos. Em total oposição ao ambiente acrítico e autoritário que experienciou na EBAL, Carlos Ramos foi uma influência decisiva na formação de Keil do Amaral como arquiteto e na importância de ser modernista, permitindo-lhe contactar com o que de mais contemporâneo se desenvolvia e discutia no estrangeiro. Foi nesse quadro que, em 1932, apresentou um projeto moderno de uma estação de caminho de ferro, no Salão de Inverno da Sociedade Nacional de Belas-Artes. Em 1933 projetou para o pintor Abel Manta e para a mulher, a pintora Maria Clementina Moura, em Oeiras, no nº 9 da rua Doutor José Joaquim de Almeida, uma casa muito original, construída até 1936. Em 1934, como aluno externo, foi aprovado no curso geral de Arquitetura da EBAL, obtendo, dois anos depois, o diploma de Arquiteto, com 17 valores. Seguiu-se o tirocínio, com a duração de dois anos, no Ministério das Obras Públicas e Comunicações, na qualidade do qual foi convidado pelo governador de Macau para desenvolver o projeto de urbanização das ilhas de Taipa e Coloane. Pelo meio, em 1933, casou com Maria da Silva Pires (mais tarde conhecida como a pintora Maria Keil), com quem passou a residir na calçada do Grilo ao Beato, tendo nascido, dois anos mais tarde, o seu único filho, Francisco Pires Keil do Amaral. Em 1936, com somente 26 anos, conquistou o concurso para o pavilhão de Portugal na Exposição Internacional de Paris, de 1937. A permanência na capital francesa, entre 1936 e 1937, para acompanhar a construção desse pavilhão, permitiu-lhe conhecer os países mais próximos, onde se destaca a Holanda, cuja arquitetura o marcou decisivamente, sobretudo a do modernista Willem Marinus Dudok. Regressado de Paris, a 22 de fevereiro de 1938, foi admitido como Arquiteto assalariado na 1.ª Repartição de Urbanização e Expropriações, da Direção dos Serviços de Urbanização e Obras (DSUO), da Câmara Municipal de Lisboa (CML), juntamente com o arquiteto Faria da Costa, como se observa no respetivo processo individual, com o número 1658/1938. No início de 1938, no âmbito do plano geral de urbanização e expansão de Lisboa, da autoria de Duarte Pacheco, este estadista convidou Keil do Amaral a desenvolver o projeto global do parque florestal de Monsanto e dos seus equipamentos. Com o objetivo de “colher elementos indispensáveis ao bom andamento das obras do Parque Florestal de Monsanto”, tal como se encontra no supradito processo, e ficar a par do que de mais recente existia nessa matéria na Europa, em 26 de junho de 1939, o presidente da CML autorizou-o a “visitar os parques de Paris, Londres, Amsterdam e Haya, a exposição de Stuttgart, e a arborização de alguns troços de autoestradas alemãs”, conforme pedido de Keil do Amaral. Esta viagem, com a duração de 25 dias, ocorreu já depois de Keil do Amaral passar a Arquiteto Urbanista de 2.ª Classe da DSUO, do quadro de pessoal tarefeiro, pelo Decreto-lei n.º 29389, de 7 de janeiro 1939, que reorganizou os serviços da CML. Foi com esta categoria que, a 28 de julho de 1943, passou para o quadro de pessoal permanente, já depois de, em 8 de novembro de 1941, ter requerido autorização para “exercer a sua profissão de Arquitecto fora da cidade de Lisboa e sem prejuízo para o serviço Municipal”. Entre outubro de 1945 e janeiro do ano seguinte, Keil do Amaral efetuou uma segunda visita de estudo como funcionário da CML, também pelo período de cerca de 25 dias, desta vez aos Estados Unidos da América (EUA), no contexto do projeto definitivo do parque Eduardo VII, aprovado no final desse ano, que foi convidado a desenvolver, mas também, nas suas palavras, “para estudar problemas relativos à futura Sala de Concertos e ao Museu Municipal”, no âmbito dos primeiros estudos para o palácio da Cidade, que receberia os serviços culturais da CML. Para tal, visitou espaços dessa natureza em Nova Iorque, Boston, Filadélfia, Detroit e Washington, mas também aerogares, já que, pela mesma altura, se encontrava a trabalhar no projeto inicial do aeroporto de Lisboa. A 16 de maio de 1946, Keil do Amaral iniciou a licença ilimitada na CML, sendo exonerado, a seu pedido, das funções que desenvolvia na DSUO, a 13 de março de 1947, como Arquiteto Urbanista de 2.ª Classe. Contudo, com o objetivo de terminar os projetos em curso, em 1946, foi-lhe cedido um atelier, o “Sobe e Desce”, na rua do Arco do Cego, onde teve a colaboração dos arquitetos Alberto José Pessoa e Hernâni Gandra, espaço que deixaria em 1949. Ainda nos anos 40, para além da prática da arquitetura, Keil do Amaral desenvolveu, ao mesmo tempo, uma intensa atividade paralela. Nesse sentido, entre outras iniciativas, integrou a direção do Sindicato Nacional dos Arquitectos (SNA), em 1941 e 1942, organizou e participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, entre 1946 e 1956, fundou o grupo Iniciativas Culturais Arte Técnica (ICAT), em 1947, no mesmo ano em que lançou, na revista “Arquitectura”, a ideia de realização do Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa, materializada em 1955 e 1956, e publicada em 1961, com o nome Arquitetura Popular em Portugal. A 9 de março de 1948 foi eleito presidente da direção do SNA, cargo de que foi exonerado a 18 de agosto do ano seguinte (sem nunca ter tomado posse oficialmente), por razões políticas, devido à opinião expressa na imprensa sobre a questão das casas económicas, aquando da campanha do general Norton de Matos às eleições presidenciais da República, de 1949, o candidato da oposição ao regime do Estado Novo, apoiado por Keil do Amaral. No mesmo domínio, a 20 de dezembro de 1953, foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), no aeroporto de Lisboa, quando aguardava o regresso do exílio da escritora Maria Lamas, apenas sendo libertado cerca de um mês depois. Em 1958 participou na campanha à presidência da República do “general sem medo”, Humberto Delgado. Os exemplos apresentados evidenciam a forte dimensão política e cívica de Keil do Amaral. Ainda na década de 1940, este arquiteto apresentou conferências e publicou diversos artigos, em revistas da especialidade, para além de livros, nomeadamente, as obras “A arquitectura e a vida” (1942), “A moderna arquitectura holandesa” (1943) e “O problema da habitação” (1945), para além da comunicação “A formação dos arquitectos”, apresentada no I Congresso Nacional de Arquitetura, em 1948. Keil do Amaral também lecionou na Universidade Popular, em 1943, e no Instituto de Arte e Decoração (IADE), no final da década de 1960. Ao contrário dos anos 40, em que desenvolveu uma intensa obra, sobretudo no contexto dos equipamentos públicos e das moradias unifamiliares, nos anos 50, já não se verificou o mesmo, em termos das encomendas oficiais, o que se pode explicar pelo seu posicionamento político, mas também por não se rever na arquitetura de inspiração nacional, imposta pelo Estado Novo. Ainda assim, nesta década, é incontornável referir duas encomendas de grande dimensão para a capital, na esfera dos equipamentos de caráter público: a Feira Internacional Portuguesa (FIP), mais tarde renomeada Feira Internacional de Lisboa (FIL), cujo projeto desenvolveu, a pedido da Associação Industrial Portuguesa (AIP), a partir de 1952, com o arquiteto Alberto Cruz; e o Metropolitano de Lisboa, em que trabalhou no desenho das estações do primeiro troço da rede, na segunda metade da década de 1950. Nos anos 60, entre outros projetos, considerando a dimensão e equipamentos previstos, destaca-se o plano urbanístico para a península de Troia, desenvolvido por Keil do Amaral, em 1963, com os seus colaboradores José Antunes da Silva, Orlando Jácome da Costa, Mário Casimiro, Justino Morais e José Manuel Norberto. Entre 1961 e 1966 desenvolveu o projeto do estádio de Bagdad, no Iraque, com o arquiteto Carlos Manuel Ramos, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG). Finalmente, no início da década de 1970, salienta-se a urbanização turística do Pinhal da Marina, em Vilamoura, Loulé, que projetou a partir de 1971, com o arquiteto José Antunes da Silva e, no mesmo ano, a Feira Internacional de Luanda (FILDA), em Angola, a pedido da Associação Industrial de Angola (AIA). Keil do Amaral foi um dos mais importantes arquitetos portugueses do século XX, responsável por uma vasta, e significativa, obra teórica e edificada, contribuindo decisivamente para a consolidação da arquitetura moderna em Portugal. Apesar de desenvolver a sua atividade num período marcado pelo Estado Novo, destacou-se, sobretudo nas décadas de 1940 e 1950, através de projetos de importantes equipamentos públicos, particularmente em Lisboa, sem se conotar com o regime político ditatorial, de que foi opositor. Pelo contrário, foi assumidamente distante dos constrangimentos historicistas da arquitetura oficial do Estado Novo, procurando uma "terceira via", de compromisso, entre a casa portuguesa tradicional e a casa moderna, através da influência da arquitetura holandesa de Willem Marinus Dudok. Entre os prémios e distinções que recebeu, evidenciam-se: o Prémio Municipal de Arquitetura (1951), pela moradia de António de Augusto Sousa Pinto, no Restelo, em Lisboa; o Prémio Valmor (1962), pela moradia de Ernesto da Silva Brito, também no Restelo; e o Prémio Diário de Notícias (1960), pelo conjunto da sua obra. Depois de ter adoecido, em 1972, com problemas cardiovasculares, Francisco Keil do Amaral faleceu a 19 de fevereiro de 1975, em Lisboa, com 64 anos.Regras e/ou convenções:ISAAR (CPF) - Norma Internacional de Registo de Autoridade Arquivística para Pessoas Coletivas, Pessoas Singulares e Famílias: adotada pelo Comité de Normas de Descrição, Camberra: Australia, 27-30 de outubro de 2003. Conselho Internacional de Arquivos.ODA - Orientações para a Descrição Arquivística: Grupo de Trabalho de Normalização da Descrição em Arquivo. Lisboa: Direção Geral de Arquivos, 2011.NP 405-1:1994 - Informação e Documentação. Referências bibliográficas: documentos impressos: Comissão Técnica 7. Lisboa: Instituto Português da Qualidade, 1994.Fontes:AMARAL, Francisco Keil do - A arquitetura e a vida. Lisboa: Cosmos, 1942.AMARAL, Francisco Keil do - A moderna arquitetura portuguesa. Lisboa: Seara Nova, 1943.AMARAL, Francisco Keil do - O problema da habitação. Porto: Livraria Latina, 1945.MOITA, Irisalva; AMARAL; Francisco Pires Keil do; TOSTÕES, Ana - Keil do Amaral: O arquiteto e o humanista. Lisboa: Câmara Municipal, 1999.TOSTÕES, Ana (coord.) - Arquitetura moderna portuguesa. 1920-1970. Lisboa: IPPAR, 2004.TOSTÕES, Ana - Cultura e tecnologia na arquitetura moderna portuguesa. Dissertação de doutoramento apresentada ao Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, 2002.TOSTÕES, Ana - Os verdes anos na arquitetura portuguesa dos anos 50. Porto: FAUP, 1997. Tese de mestrado.TOSTÕES, Ana; FERREIRA, Raúl Hestnes - Keil do Amaral no centenário do seu nascimento. Lisboa: Argumentum, 2010.