Plano de classificação

Tipo de entidade:Pessoa singularMardel, Carlos. 1695?-1763, arquiteto e engenheiro militarOutras formas do nome:MardelData(s):1695-03-15 - 1763-04-15 (nascimento e morte) 1735 - 1741 (projeto de edificação da Real Fábrica das Sedas) 1742 (plano para a reconstrução do Cais da Pedra) 1742 - 1747 (obra de construção do Recolhimento de Nossa Senhora dos Anjos em Santos-o-Velho) 1747 (provimento no cargo de arquiteto dos Paços Reais e Alentejo) 1747 (projeto de alteração da igreja de São Nepomuceno) 1748 (direção da obra do Aqueduto das Águas Livres) 1749 (arquiteto das Ordens Militares)1762 (promoção à patente de coronel) 1756 (plano de urbanização para a zona ocidental de Lisboa) 1759 (projeto do bairro das Águas Livres) 1760 (direção da Casa do Risco) 1760 (plano de pormenor para o Rossio) História:Carlos Mardel, arquiteto e engenheiro militar de nacionalidade húngara, constitui um dos melhores exemplos do modelo clássico de planeamento urbano setecentista. Filho de Carlos Mardel e Anna Barbara de Sohevaun, nasce em Pressburgo, actual Bratislava (c.1695), desconhecendo-se a data exata e os motivos da sua vinda para Portugal. Sabe-se, no entanto, que inicia o seu percurso profissional nas Águas Livres (1733), com o posto de capitão-engenheiro. O documento que atesta a sua promoção ao posto de sargento-mor de infantaria (1735) refere ter estado já há algum tempo ao serviço de D. João V, como capitão engenheiro assim como ter servido nas guerras do Império com os postos sucessivamente de capitão e coronel. É o primeiro arquiteto estrangeiro a ocupar lugares de topo em cargos régios e de ensino na "espécie", segundo Walter Rossa, de "Ordem Militar da Arquitetura". Após o falecimento de Custódio Vieira (1747) é provido no cargo de arquiteto dos Paços Reais e Alentejo. A esta atividade alia o exercício de funções, como arquiteto das Ordens Militares (1749). É promovido a coronel, em 1762, patente que conserva até à sua morte. O seu nome, aparece intimamente ligado a intervenções arquitetónicas nos reinados de D. João V e D. José. No período joanino desempenha um papel preponderante a nível da arquitetura civil. Juntamente com Custódio Vieira, é coautor do Plano do Cais Novo de Pedrouços ao Cais de Santarém, que é concretizado já sem a assinatura de Custódio Vieira (1742). Do mesmo ano e da responsabilidade da mesma equipa é também o plano para a reconstrução do Cais da Pedra. É responsável, ainda, por um vasto conjunto de obras de cariz utilitário no âmbito da preocupação régia com o abastecimento de água à cidade de Lisboa. Neste contexto, colabora com outros engenheiros militares portugueses no Aqueduto das Águas Livres, projeto que passa a dirigir (c.1748), sendo também de sua autoria vários projetos de chafarizes monumentais, alguns dos quais não chegam a ser construídos. Desta arquitetura utilitária destacam-se os arcos do troço das Amoreiras e o grande reservatório da Mãe-de-Água. Mardel trabalha ainda para o Marquês de Pombal nos palácios de Lisboa e Oeiras, recorrendo na composição das fachadas a características utilizadas em algumas construções áulicas francesas. O utilitarismo a par da elegância revela-se, sobretudo, a nível da concepção de elaborados jardins onde a azulejaria e a estatuária servem de adorno a escadarias, casas de fresco, fontes e lagos. Ainda no domínio da arquitetura civil (trabalho a nível de encomendas privadas) é responsável pelos projetos das casas de campo na Junqueira, para Lázaro Leitão Aranha, alto dignatário da Sé Patriarcal, e da Casa das Águias, para o secretário de Estado Diogo de Mendonça Corte Real, empregando uma solução inovadora do centro da Europa: torreões com duplos telhados. Para o primeiro executa também, mais tarde (1742-1747), o Recolhimento de Nossa Senhora dos Anjos, em Santos-o-Velho. Na arquitetura religiosa, é responsável pela grandiosa obra de renovação da Igreja de São João Nepomuceno, apesar de ter chegado até nós apenas um desenho desta, da autoria de Luís Gonzaga Pereira (1833). Intervem, ainda, na Igreja dos Freires de Avis, nos conventos do Louriçal e de Santa-Clara-a-Nova, em Coimbra (claustro e portaria), no Colégio de São Paulo e na adaptação do Noviciado da Cotovia para o Colégio dos Nobres. A sua primeira e grande obra do período pré-pombalino é a execução da Real Fábrica das Sedas do Rato, que projetou e edificou (1735-1741), assim como todas as infra-estruturas de apoio, fazendo parte do conjunto fabril não só a unidade em si, mas também toda a "vila operária". O seu nome aparece intimamente ligado à reconstrução de Lisboa, na sequência do sismo de 1755 e ao "Gabinete Técnico" da Casa do Risco e Reais Obras Públicas, onde, por indicação do engenheiro-mor, Manuel da Maia, e sob a direção de Eugénio dos Santos, coordena todos os trabalhos de recuperação urbana sendo também por inerência do cargo um dos inspetores das obras de reedificação da cidade. Neste contexto específico é nomeado por Manuel da Maia (1756), para colaborar, junto com Eugénio dos Santos e Elias Sebastião Poppe, na execução de um plano de urbanização para a zona ocidental de Lisboa, sendo responsável pela renovação da malha urbana da zona industrial das Amoreiras. É da sua autoria o projeto para o bairro das Águas Livres, na zona nova da cidade, que no seu conjunto, abrange sensivelmente o espaço entre a Mãe de Água e a atual rua Artilharia 1, o Rato e Campolide (1759). Deste plano geral para o setor, conhecem-se inúmeros desenhos de plantas, alçados e estudos de urbanismo. Sucede a Eugénio dos Santos na direção da Casa do Risco (1760) e no âmbito das funções aí desempenhadas, são de referir as alterações às propostas do seu antecessor, expressas no plano de pormenor para o Rossio. O "Dossier de Projecto" inclui alçados iguais "de um lado" e "de um topo", denotando preocupação com a uniformização da Praça, contemplando neste o sucedâneo do Hospital Real de Todos os Santos, o Convento de São Domingos e o edifício da Inquisição. É inovador ao implementar um sistema de articulação de corpos separados por pilastras, cada um deles centrado de forma autónoma por janelas de sacada tendo dos lados janelas de peitoril. O duplo telhado já mencionado é também um elemento dominante na composição da praça. O plano urbano proposto por Mardel foi em linhas gerais mantido, tendo, no entanto, sido sujeito a algumas alterações, por Reinaldo dos Santos. A conceção do sistema construtivo antisísmico, em madeira, que ficou conhecido como "gaiola", é-lhe atribuído, embora este, provavelmente seja, uma solução coletiva da Casa do Risco. Arquiteto de formação barroca e rococó, foi o primeiro a definir uma estratégia de ordenamento para a zona ribeirinha e para o porto de Lisboa. A mentalidade prática de Mardel expressa-se em todas as soluções arquitetónicas propostas numa tentativa de adaptação à realidade portuguesa, criando o que se poderá designar por "arquitetura económica pombalina".Lugares:Bratislava LisboaFunções, ocupações e actividades:ArquitetoEngenheiro militarIdentificador do registo de autoridade:00015Identificador(es) da instituição:PT/AMLSBRegras e/ou convenções:ISAAR(CPF)PORTUGAL. Direcção-Geral de Arquivos. Grupo de Trabalho de Normalização da Descrição em Arquivo - Orientações para a descrição arquivística. 2ª v. Lisboa: DGARQ, 2007. ISBN 978-972-8107-91-8.NP 405-1. 1994, Informação e Documentação - Referências bibliográficas: documentos impressos. Lisboa: IPQ.Línguas e escritas:PortuguêsFontes:CORREIA, José Eduardo Horta - "Mardel, Carlos". In PEREIRA, José Fernandes, dir.; PEREIRA, Paulo, ed.lit. - Dicionário de arte barroca em Portugal. Lisboa: Presença, 1989. p. 280-283.MOITA, Irisalva, dir. - Lisboa e o Marquês de Pombal: exposição comemorativa do bicentenário da morte do Marquês de Pombal. Lisboa, Museu da Cidade, 1982. 3 vols.PEDREIRINHO, José Manuel - Dicionário dos arquitetos activos em Portugal do século I à actualidade. Porto: Afrontamento, 1994. p. 160-162.WOHL, Helmut - "Carlos Mardel and his Lisbon Architecture", in Apollo, Londres, 134 (Abril 1973).ROSSA, Walter - A urbe e o traço: uma década de estudos sobre o urbanismo português. Coimbra: Almedina, 2002, p.53-69.ROSSA, Walter - Além da Baixa: indícios de planeamento urbano na Lisboa setecentista. 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