Plano de classificação

Cassiano BrancoData(s):1871-1969Nível de descrição:FundoDimensão e suporte:Dimensão: 52 caixas, 97 pastas, 86 capilhas, 9 rolos (34 m.l.)Suporte: AmocêSuporte: CartãoSuporte: MarionSuporte: MetalSuporte: Negativo de gelatina e prata em acetato de celuloseSuporte: Negativo de gelatina e prata em nitrato de celuloseSuporte: Negativo de gelatina e prata em poliésterSuporte: Negativo de gelatina e prata em vidroSuporte: OzalideSuporte: PapelSuporte: Prova em papel de revelação baritadoSuporte: Prova em papel directo de colódio ou gelatinaSuporte: TelaSuporte: VegetalNome(s) do(s) produtor(es) e história administrativa/biográfica:Nome(s) do(s) produtor(es): Branco, Cassiano Viriato. 1897-1970, arquitetoHistória administrativa/biográfica: Cassiano Viriato Branco, único filho de Cassiano José Branco, barbeiro, natural de Alcácer do Sal, e de Maria de Assunção Viriato, oriunda de Castelo de Vide, nasceu em Lisboa, a 13 de agosto de 1897, no 2.º andar do n.º 51 da rua do Telhal, na freguesia de São José, paredes-meias com a avenida da Liberdade. Iniciou o percurso de instrução em 1903, numa escola primária situada entre a calçada da Glória e as escadinhas do Duque, onde conheceu o futuro engenheiro Ávila do Amaral, de quem se tornou amigo e com quem viria a colaborar. Mais tarde, ingressou na Escola Académica, até 1912, altura em que, com apenas 15 anos, se matriculou na Escola de Belas Artes de Lisboa (EBAL), onde se iria cruzar com a geração pioneira do modernismo, fundamental para a renovação da arquitetura portuguesa, como Pardal Monteiro, Cristino da Silva, Cottinelli Telmo, Carlos Ramos, Jorge Segurado, entre outros. Em 1914, abandonou a EBAL, ingressando no ensino técnico-profissional, mas regressou cinco anos mais tarde, iniciando o curso especial de Arquitetura, que concluiu em 1926, data em que entrou para a Maçonaria, na loja Madrugada, de rito francês, sob o cognome de Vitrúvio (influência do Tratado de Vitrúvio, na célebre edição de Charles Perrault, de 1681, que adquirira, cinco anos antes, numa viagem a Amesterdão). A Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels, de Paris, em 1925, foi determinante na sua formação, ao possibilitar-lhe o contacto com as linguagens de vanguarda, do geometrismo Art Déco ao racionalismo modernista de Le Corbusier, a par da utilização do betão e dos novos materiais. No mesmo sentido, as inúmeras viagens que fez (Paris, Bruxelas, Espanha e Inglaterra, para lá de Amesterdão), entre 1919 e 1926, foram decisivas para o percurso profissional que iria desenvolver. Efetuado um tirocínio de dois anos, com o arquiteto José da Purificação Coelho, requereu o diploma de arquiteto, em 1932. Ao mesmo tempo que estudava, Cassiano Branco trabalhava com o pai na gestão de uma pequena fábrica de perfumes, em Queluz, nos arredores de Lisboa e, em acumulação com esta atividade, num banco. Foi durante este período que casou, no final de 1917, com Maria Elisa, uma jovem do círculo familiar de amigos, nascendo no ano seguinte a única filha do casal, batizada com o nome da esposa. Cassiano Branco terminou a sua formação de arquiteto em 1926, todavia, dois anos antes havia apresentado uma proposta relativa a uma piscina coberta para Lisboa. Como arquiteto diplomado, iniciou atividade com dois projetos bastante significativos, fora da capital: o edifício dos Paços do Concelho da Sertã (1925-1933) e o mercado municipal de Santarém (1928-1930), com uma estilística de raiz clássica, reflexo da sua formação na EBAL. O primeiro projeto onde evidenciou um programa modernista foi o do stand Rios d’Oliveira (1928), na avenida da Liberdade, em Lisboa, uma garagem para a recolha de automóveis de “praças e particulares”, infelizmente já demolido. No ano seguinte, em 1929, foi-lhe solicitado um projeto de alterações do coliseu dos Recreios e a ampliação do teatro Éden, duas casas de espetáculos de Lisboa. No primeiro caso, tratou-se de um projeto de intervenção nos corredores, no palco e na cúpula. Já o trabalho a desenvolver no teatro Éden foi bastante mais controverso e ambicioso, mormente a ampliação desse espaço, com o duplo objetivo de tornar possível a exibição do cinema sonoro e de aumentar o número de espectadores. Tendo sido, possivelmente, a obra mais emblemática de Cassiano Branco e um dos marcos na arquitetura moderna portuguesa, o projeto do cineteatro Éden, apenas inaugurado a 1 de abril de 1937, foi, contudo, atribuído ao engenheiro civil Alberto Alves Gama e ao arquiteto Carlos Dias, seu colaborador, que o concluiu. Apesar dos elementos mais notáveis das alterações efetuadas poderem ser encontrados nas duas primeiras propostas de Cassiano Branco, o arquiteto nunca reivindicou a sua autoria, embora esta evidência seja unânime entre os estudiosos da sua obra. A partir de 1930, Cassiano desenvolveu uma intensa atividade profissional, sob a influência determinante da Art Déco e do modernismo europeu, caraterizada por projetos visionários, como a Cidade do Cinema Português, em Cascais, o plano para a Costa de Caparica, ambos de 1930, e os alpendres-reclames para o Rossio e Restauradores, em Lisboa, de 1936, que não passaram do papel, mas de extrema criatividade, como o mencionado cineteatro Éden (1930-1933), o hotel Vitória (1934-1935), ou o coliseu do Porto (1939), este último, uma obra de síntese, de grande maturidade estilística e plena modernidade, que encerrou a sua atividade projetual nessa década. Contudo, onde Cassiano Branco deixou marca mais profunda foi nas fachadas de dezenas de notáveis edifícios de habitação, espalhados por Lisboa, que iriam servir de modelo para muitos prédios da capital. Pese embora ter-se tratado do período de maior sucesso profissional de Cassiano Branco, ainda assim, não conseguiu uma das metas que ambicionara e para a qual tinha inegável talento, ser professor de arquitetura, já que, por duas vezes (em 1933 e 1934) concorreu à EBAL, para o lugar de professor da 8.ª Cadeira - Desenho Arquitetónico, Construção e Salubridade, tendo sido preterido em ambas. Opositor declarado do Estado Novo, Cassiano Branco só muito raramente não foi excluído das encomendas oficiais de maior estatuto e visibilidade. É um facto que participou, de forma discreta, na Exposição do Mundo Português (1940), e recebeu as encomendas para a estação de caminhos de ferro de Benguela, no Lobito, em Angola, e para o embelezamento das barragens de Santa Catarina (Pego do Altar) e Vale do Gaio, na bacia do rio Sado, do rio Pônsul, em Idanha-a-Nova, todos de 1936, e de Belver, no distrito de Portalegre, cujas obras finalizaram em 1952, ou o edifício da Junta Nacional do Vinho (1940 a 1941), em Lisboa. Todavia, a maior parte da sua obra proveio de clientes particulares e de construtores civis, predominantemente, através de encomendas de prédios de rendimento, a integrar em malhas urbanas consolidadas. A partir de 1938, foram raros os prédios na cidade lisboeta assinados por ele, presumivelmente, por ter estado ocupado com os projetos do Grande Hotel do Luso e do coliseu do Porto, para lá do trabalho que iniciara no Portugal dos Pequenitos, um parque lúdico-pedagógico localizado em Coimbra, dedicado ao público infantil e juvenil. Em oposição aos extraordinários anos 30, a partir do final desta década, Cassiano Branco iniciou uma fase visivelmente marcada pela falta de trabalho, de quase total abandono de programas arquitetónicos de feição modernista, que tão brilhantemente praticara no período anterior, revelando uma aproximação ao estilo oficial do Estado Novo, que doravante dominaria a arquitetura portuguesa, e de que são exemplos mais significativos, o Portugal dos Pequenitos (1937 a 1961), o Grande Hotel do Luso (1940), ou os prédios de habitação na avenida António Augusto de Aguiar (1944), os projetos não aprovados para o cinema Império (1945 e 1947) e o arranha-céus da praça de Londres (1949), todos em Lisboa. As suas fortes convicções políticas, de contestação ao regime salazarista, foram determinantes para a exclusão de Cassiano Branco dos projetos oficiais de maior importância e prestígio. De igual modo, a sua personalidade frontal e exigente levou a que abandonasse, de forma prematura, empreendimentos de significativa dimensão, por desentendimentos com clientes ou construtores, sendo concluídos por outros, como sucedeu no cineteatro Éden e no cinema Império, embora o seu cunho seja evidente na solução final destes edifícios. Nos anos 50, tal como na década anterior, a carreira de Cassiano Branco foi objeto de adversidades, de que são exemplos, a não aprovação do projeto de um hotel na praia da Rocha (Portimão) e de ampliação do edifício da sede da Junta Nacional do Vinho, em Lisboa. Ambos revelaram uma tentativa, por parte do arquiteto, de integração numa estilística menos historicista, o que foi concretizado na zona do Cais do Sodré, em Lisboa, com o Texas bar (1950) e o bar Europa (1951-1952). Significativos são, também, os estudos, nunca concretizados, do concurso para o monumento ao Infante de Sagres, promovido entre 1954 e 1956, e a proposta para uma ponte sobre o rio Tejo, em 1958. Em 1957, Cassiano Branco fez parte do secretariado de apoio à candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República, tornando-se, no ano seguinte, chefe de propaganda da campanha, afirmando a sua oposição em relação ao Estado Novo. Ainda neste ano, esteve preso, entre 4 e 16 de junho, pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), supostamente por liderar uma ação que pretendia colocar cartazes com frases contra o regime e a apelar ao voto em Humberto Delgado, que viria a perder a eleição para Américo Tomás, num processo envolto em suspeita de fraude dos resultados, por parte da União Nacional, o partido afeto ao governo de António de Oliveira Salazar. Na década de 60, Cassiano Branco elaborou alguns projetos em que demonstrou um último esforço de acompanhamento da arquitetura de influência internacional, sobretudo, ao nível dos equipamentos turísticos, mas também nos de natureza social, como na segunda proposta de ampliação do edifício da sede da Junta Nacional do Vinho, em Lisboa, e nos projetos para o Grémio do Comércio dos concelhos de Torres Vedras, Cadaval e Sobral de Monte Agraço, para o quartel da Guarda Nacional Republicana (GNR) de Valença, para a cadeia comarcã de Monção, para o edifício dos Correios, Telefones e Telégrafos (CTT) em Portimão, e para um edifício na Rebelva, em Parede. Para além dos exemplos anteriores, Cassiano Branco dedicou-se a pesquisas e investigações de natureza histórica, como demonstram os cenários para um filme, a valorização das ruínas do Carmo, em Lisboa, por via da construção de uma estátua de homenagem a D. Nuno Álvares Pereira, a par dos estudos para a reconstrução do teatro Romano de Lisboa. No todo, é visível a alternância entre um ecletismo de inspiração tradicional e de inspiração moderna, que ficou mais uma vez assinalada no último projeto de Cassiano Branco, para o concurso público para a fachada do Banco de Portugal, em Évora. A solução apresentada foi reprovada e constituiu um derradeiro exemplo da ambiguidade que marcou a sua obra, desde 1940. A prolixa e diversificada obra de Cassiano Branco, de grande riqueza formal, desenvolvida entre meados dos anos 20 e o final da década de 1960, consagrou-o como um dos arquitetos que mais indelevelmente marcou a primeira geração modernista em Portugal. Embora não tenha feito parte do grupo de pioneiros do modernismo, é inegável a sua importância na história da arquitetura portuguesa, da primeira metade do século XX, tendo sido, seguramente, um dos mais conhecidos e estudados. O contexto histórico da sua vasta e notável obra, associado à sua personalidade, é indispensável para compreender a complexidade de um percurso, muitas vezes polémico, que, iniciado no período pré-modernista da Primeira República, tendeu a ser interpretado à luz do Modernismo e do Português Suave. Cassiano Branco faleceu a 24 de abril de 1970, com 72 anos.História custodial e arquivística:A documentação foi adquirida pela Câmara Municipal de Lisboa, em 1990. Encontra-se atualmente à guarda do Arquivo Municipal de Lisboa, que a detém, em regime de usufruto e de propriedade jurídica.Âmbito e conteúdo:Documentação produzida e acumulada entre 1871 e 1969, no âmbito da atividade exercida por Cassiano Branco, no domínio da arquitetura, de cariz público e privado. Reflete o trajeto pessoal, académico e profissional do arquiteto, compreendendo projetos para edificado de uso diverso (habitacional, comercial, industrial, hidroelétrico, artístico, turístico, de utilização pública e recreativa). Reúne um conjunto de propostas arquitetónicas e de soluções urbanísticas, que espelham o início da estética modernista em Portugal, mas também um ecletismo de inspiração tradicional, integrando composições com particular incidência no concelho de Lisboa. Contempla projetos arquitetónicos para os seguintes tipos de utilização: moradias, prédios de rendimento, grémios, fábricas, armazéns, stands, joalharias, tipografias, cafés, cervejarias, restaurantes, monumentos, agências bancárias e de viagens, hotéis, casinos, cinemas, teatros, barragens, postos de correio, telégrafos, telefones, câmaras municipais, juntas de turismo, embaixadas, estações ferroviárias, estruturas móveis, quartéis e cadeias. Inclui, ainda, documentação particular: correspondência, desenhos, artigos de jornais, recortes, revistas, cartazes, fotografias, postais, mapas, plantas, inscrições, informação de concursos na área do ensino e estudos urbanísticos.Condições de reprodução:Reprodução para exposição, publicação e utilização comercial mediante autorização do Arquivo Municipal de Lisboa.Unidades de descrição relacionadas:Cód. referência: PT/AMLSB/BLATítulo: Daniel BlaufuksCód. referência: PT/AMLSB/CMLSBAH/ODAS/004/000217Título: Cassiano Branco: uma obra para o futuroNota de publicação:LISBOA. Câmara Municipal. Arquivo Municipal - Jardim Portugal dos Pequenitos. Lisboa: Câmara Municipal: Fundação Bissaya Barreto, D.L. 2000. ISBN 972-8517-18-1.NEVES, Helena - Inventário do Espólio de Cassiano Branco. "Cadernos do Arquivo Municipal". Lisboa. ISSN 0873-9870. N.º 1 (1997) pp. 50-83. Assunto:Branco, Viriato Cassiano. 1897-1970, arquitetoArquivo:AHCódigo de referência:PT/AMLSB/CB